domingo, 23 de maio de 2010

Idosos sem dentes

Quase 80% dos idosos brasileiros tem menos de 20 dentes.

Pesquisa da Faculdade de SaúdePública (FSP) da USP mostrou que metade dos brasileiros entre 35 e 45 anos perdeu ao menos 12 dentes e que cerca de 80% dos idosos no País têm menos de 20 dentes. Segundo o estudo, aproximadamente 35% dos idosos que precisam de dentadura não tem acesso a ela.

A pesqusa analisou dados do levantamento mais recente sobre o assunto, o Projeto Saúde Bucal Brasil 2003, publicado pelo Ministério da Saúde em 2004. O levantamento foi feito em 250 municípios de todos os estados e abrangeu 13.471 adultos entre 35 e 44 anos e 5.349 idosos entre 65 e 74 anos. Com as informações, a tese indicou quais fatores tinham relação com a perda dentária em adultos, com a falta de dentaduras e a presença de menos de 20 dentes na boca (edentulismo funcional) em idosos.

“Quem tem menos de 20 dentes não consegue mastigar ou falar de forma eficiente”, explica o dentista Rafael da Silveira Moreira, autor da tese. “E a estética fica comprometida”.

A pesquisa aponta que a média de perda dentária e edentulismo funcional foram maiores entre os habitantes de cidades pequenas, estados onde são extraídos mais dentes por habitante e regiões com menor número de dentistas por habitante. Com essas informações, Silveira elaborou mapas mostrando as áreas do Brasil em que esses fatores de risco estão mais presentes.

Áreas de risco alto para perda dentária estão presentes principalmente no Mato Groso e Pará, no oeste da região Norte, em todos os estados do Nordeste, exceto Pernambuco e Bahia. Também há áreas menores na divisa entre Mato Grosso do Sul e Minas Gerais.

O risco para edentulismo funcional é mais alto nas regiões Norte e Nordeste inteiras. Há manchas de risco altíssimo em regiões do interior da Bahia, Maranhão, Pará, Amapá e Amazonas. Há somente uma mancha de baixo risco, entre o Vale do Paraíba e a Região Metropolitana de São Paulo.

Condição social

A pesquisa mostrou que têm maior associação com a perda dentária alguns grupos que procuram mais os serviços odontológicos . Entre eles, mulheres e aqueles que foram ao dentista ao menos uma vez na vida.

Segundo Silveira, isso acontece por que muitas vezes as pessoas procuram serviços de saúde que não conseguem oferecer alternativas à extração – como tratamento de canal.

Quando têm pelo menos um carro, membros desses grupos correm menor risco. “A condição social da pessoa determina se ir ao dentista pode ser uma situação de risco ou proteção para a perda dentária”, diz Silveira.

Também tinham maiores chances de perda dentária pessoas com menos anos de estudo e quem não recebeu informações sobre como prevenir doenças bucais. Outros fatores de risco eram demorar mais de três anos para ir ao dentista ou só ir em situações de emergência.

Faltam dentaduras

O estudo mostrou que há mais idosos precisando de dentadura e sem acesso a ela nas cidades com menos de 100 mil habitantes, microrregiões em que muitas pessoas só vão ao dentista em situação de emergência e nos estados onde os adultos têm menor escolaridade.

Essas áreas de risco estão em todo o Nordeste, no oeste da região Norte e no norte de Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso. Há algumas áreas de risco muito baixo em São Paulo, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul.

Idosos que nunca foram ao dentista têm o dobro de chance de precisar de dentadura e não ter. Também tem mais chance os homens, não-brancos, maiores de 69 anos e que moram em casas com maior número de pessoas por cômodo. Idosos que moram em áreas urbanas tiveram menor risco, mas quando a última consulta odontológica foi realizada no serviço público, o risco foi maior.

“A pesquisa ajuda a orientar políticas de saúde pública”, explica o professor da FSP Júlio César Pereira, orientador de Silveira. “O prefeito de uma cidade que agrega muitos fatores de risco pode ir a Brasília, mostrar esse mapa e pleitear mais recursos.”

Além disso, os resultados podem servir para mostrar aos dentistas quais pacientes têm maior risco de perda dentária. “Assim, quando entrar um paciente com perfil de risco, ele já sabe como atender”, diz Pereira.

Texto: Nilbberth Silva
Fonte: Agência USP de Notícias

Publicado em: 12/05/2010

Transmissão Doença de Chagas

Pesquisa associa polpa de açaí à transmissão da Doença de Chagas.

Equipe multidisciplinar liderada pelo professor Luiz Augusto Corrêa Passos, diretor da Divisão de Pesquisa do Centro Multidisciplinar para Investigação Biológica (Cemib), e pela professora Ana Maria Aparecida Guaraldo, do Departamento de Biologia Animal, do Instituto de Biologia (IB), ambos da Unicamp, conseguiu demonstrar cientificamente que o Trypanosoma cruzi, protozoário causador da doença de Chagas, sobrevive na polpa de açaí, tanto na temperatura ambiente como a 4°C na geladeira e, também, congelado por algumas horas a -20º C. O resultado, considerado inédito, é de extrema importância, principalmente porque dados do Ministério da Saúde (MS) de 2008 confirmaram a notificação de 124 casos da doença de Chagas aguda contraídos por transmissão oral na região Norte brasileira, sendo 99 deles no Estado do Pará.

Segundo Passos, a conclusão da pesquisa aponta dois aspectos fundamentais que deverão ser tratados de maneira concomitante. O primeiro deles é que se trata de um problema de saúde pública e o segundo, uma questão socioeconômica. “Além da importância econômica que o açaí tem para a região, constitui-se muitas vezes como o principal e único alimento da camada mais pobre da população”, afirmou o diretor. Entretanto, Guaraldo observa que o risco de infecção é maior para aqueles que consomem a polpa fresca, ou seja, trata-se de um fenômeno localizado. Para aqueles que consomem a polpa de açaí industrializada, que passa pelo processo de pasteurização, o risco é quase nulo. A pesquisa foi realizada no âmbito do convênio “Análise da interferência da polpa de açaí na transmissão oral de Trypanosoma cruzi, contribuindo para o surgimento de surtos de doença de Chagas aguda (DCA) na região Norte do Brasil”, firmado entre o MS e a Unicamp. Também já resultou em um artigo em revista especializada, um capítulo de livro, dois resumos expandidos e nove resumos simples publicados em anais de congressos, além de artigo que acaba de ser aceito pelo importante periódico Advances in Food and Nutrition Research.

De acordo com os pesquisadores, não existe uma relação direta entre a polpa e o protozoário. Na verdade, ele pode ser levado até a polpa pela maceração do próprio inseto vetor nos batedores do açaí ou por meio das fezes do barbeiro. Quando o fruto é processado, carrega junto o Trypanosoma cruzi; portanto, se o lote de frutos não estiver contaminado, não representará perigo à saúde humana. Passos contou que a situação só não é mais grave porque depende muito da pessoa que recolhe os frutos. Algumas têm um cuidado maior com a limpeza e higienização dos frutos, enquanto outras nem tanto, aumentando assim o risco. “Depende totalmente da manipulação”, observou o docente.

Em toda bacia amazônica, principalmente em Belém, o açaí é consumido em larga escala pela população, desde os 6 meses de idade, como complemento alimentar. Para os idosos, ele é muito importante porque, pela falta de dentição, tem na polpa do fruto seu principal alimento. Está presente em centenas de receitas, entre as quais sorvetes e sucos, além de servir de simples acompanhamento do arroz com o feijão. “Para que não represente um perigo iminente para a saúde, é necessário que o fruto receba um tratamento sanitário adequado e a polpa, um tratamento térmico capaz de eliminar o protozoário”, afirmou o diretor do Cemib.

A interferência do MS no problema tem sido fundamental para alertar os produtores quanto a esses cuidados. Tanto que a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) lançou um manual específico para toda região amazônica, incluindo Venezuela e Colômbia, trazendo uma abordagem para leigos e médicos. A doença de Chagas aguda é fatal e, em muitos casos, causa a morte da pessoa em até 25 dias. Como as microepidemias de doença de Chagas aguda ocorrem justamente na época de produção do açaí, o fato chamou bastante a atenção das autoridades, principalmente pelo fato de a contaminação se dar por via oral. O que a Unicamp fez foi realizar cientificamente a primeira abordagem sobre o fenômeno.

Passos relatou que essa trajetória teve início com a participação do professor Flávio Luis Schmidt, da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp, em um encontro em Brasília (DF), em setembro de 2007. Lá, soube do interesse do MS em atender uma demanda específica em Belém do Pará. Sabendo também que o Cemib atua na pesquisa de Chagas experimental e nele era mantido o parasito in vivo, Schmidt fez contato com Passos para saber qual poderia ser a contribuição científica da Universidade no entendimento dos surtos. Ambos partiram para Belém com o propósito de conhecer como era feito o recolhimento dos frutos, de que maneira saíam das ilhas e chegavam no continente e como era feito o processamento. “Queríamos, enfim, entender como poderia ser estabelecido um mecanismo que permitisse a transmissão do parasito por via oral”, disse Passos.

A convite do MS, participaram de reuniões de trabalho com equipes e pesquisadores do Instituto Evandro Chagas (órgão ligado à Fiocruz), e com técnicos do Ministério, da Anvisa e da Secretaria de Saúde do Pará. Como este Estado depende do fruto, tanto como suplementação alimentar como economicamente, o próprio governo estadual estava sofrendo uma pressão muito grande para dar respostas sobre o que estava ocorrendo e de que maneira poderia intervir. Nesse meio tempo, surgiu uma questão sobre como vincular os surtos de transmissão oral da doença de Chagas ao consumo de açaí. De acordo com informações recolhidas junto a essas equipes, o único ponto em comum encontrado residia no consumo de polpa de açaí justamente nos locais onde os surtos haviam se manifestado. Outra evidência que chamou a atenção foi a de um médico que alegava ter comprado a polpa congelada em um supermercado e também ter contraído a doença. Porém, esses dados eram apenas de natureza epidemiológica, segundo Passos. “Não havia nenhum dado científico que demonstrasse a relação entre a polpa da fruta e a transmissão do protozoário”, disse. Foi aí que teve início o desafio dos pesquisadores da Unicamp. Um projeto foi formulado para o MS que, depois de aprovado, evoluiu para um convênio.

No entanto, antes que a formalização do projeto acontecesse e com recursos apenas da Unicamp, Passos e Schmidt voltaram de Belém trazendo na bagagem a polpa do açaí, dando início aos primeiros testes. O objetivo era ter uma resposta ao problema o mais rápido possível. Além de Passos, Guaraldo e Schmidt, fazem parte da equipe a professora Regina Maura Bueno Franco, do IB; a professora Karen Signori Pereira, da UFRJ; a professora Nanci do Nascimento, do IPEN/USP; Viviane Liotti Dias e toda a equipe da Divisão de Pesquisa do Cemib; e Rodrigo Labello Barbosa, aluno de mestrado em parasitologia do IB. Barbosa defenderá sua dissertação de mestrado no próximo dia 11 de junho, a primeira resultante desse projeto de pesquisa.

Metodologia

De maneira intencional, os pesquisadores desenharam determinados protocolos capazes de ampliar as chances de repetidamente identificar ao menos um protozoário nas amostras. Passos garantiu que, pela metodologia desenvolvida no Cemib, se um único tripomastigota estiver vivo, será detectado. A amostra é colocada por três vias diferentes em um animal especial, uma linhagem imunodeficiente que não resiste a um protozoário virulento: por via oral; por gavage (técnica intragástrica, na qual, por meio de uma cânula a amostra é colocada diretamente no estômago); e pela clássica via intraperitoneal.

Para que não houvesse nenhuma contestação a respeito dessa metodologia, a Unicamp foi convidada pelo MS para participar de três eventos internacionais para demonstrar os resultados. “O ministério pediu que déssemos as respostas à academia daquilo que dizia respeito às providências científicas que ele estava tomando para abordar o problema”, disse o diretor de pesquisa. Os protocolos apresentados foram discutidos e questionados, e no final, foram aprovados comprovando que a metodologia foi muito bem estabelecida.

O resultado produzido pelo Cemib faz parte de um conjunto de ações estratégicas do MS para interferir na produção dos frutos. Existem dois aspectos por meio dos quais as equipes da Vigilância Sanitária de Belém estão trabalhando para desenvolver um plano de ação.

O primeiro se concentra nos grandes centros consumidores e o segundo, na população mais humilde que não tem conhecimentos básicos, entre os quais sobre higiene, por exemplo. As iniciativas contemplam a questão educacional, responsável por traduzir esse conhecimento para a linguagem da população caiçara; aspectos técnicos, como, por exemplo, um banho de hipoclorito e posterior enxágue dos frutos; forma de recolhimento dos frutos para colocação nos paneiros e, por último, uma técnica que está sendo desenvolvida no Cemib, chamada cinética de inativação térmica, capaz de determinar uma temperatura mínima para tratar a polpa sem alterar suas condições nutricionais e de paladar. “Os testes-piloto demonstraram uma temperatura que parece ser bastante eficiente na erradicação do protozoário. Nos próximos dias iniciaremos os testes com a própria polpa e, em breve, teremos mais esse resultado”, garantiu Passos.

Guaraldo fez questão de ressaltar que, desde 1909, quando a doença de Chagas foi descoberta, é preciso considerar que 80% da transmissão ainda se dá pela via vetorial e que, de 5% a 20% por transmissão sanguínea. Apenas 1% ocorre por transmissão vertical – da mãe para o feto – e nesse índice é que entra a transmissão oral. Nem todas as pessoas que entram em contato com o Trypanosoma cruzi morrerão, assegurou a docente. “Aproximadamente 70% das pessoas que contraem a doença têm uma infecção, superam a fase aguda, nunca entram na fase crônica e jamais terão problema algum”, concluiu.

Texto: Jeverson Barbieri
Fonte: Jornal da Unicamp

Publicado em: 12/05/2010

terça-feira, 18 de maio de 2010

Objetivo deste blog

Oi...o objetivo deste blog é trocar informações sobre os mais variados temas, principalmente os que se referem à saúde, educação e lazer.